quarta-feira, 16 de março de 2011

DEU NO BLOG DO André Barcinski



O que Luciana Gimenez, Felipão, Berlusconi e Bush têm em comum?

Resposta: os quatro proferiram frases vergonhosas durante a semana que passou.

Nada de novo, não é mesmo? São quatro figuras proeminentes em seus respectivos campos de atuação e reincidentes quando o assunto é gafe.

Luciana Gimenez, famosa por ter um filho com Mick Jagger e ser casada com o dono da emissora de TV em que trabalha, fez uma análise instigante sobre o problema da obesidade: “É engraçado para os outros. Mas dói o pescoço, as costas. Não sei como as pessoas conseguem ser gordas. Para ser gordo tem que ser corajoso. É um desconforto.”

Então ser gordo é engraçado, Luciana? Delfim Netto é engraçado? Quer dizer que a obesidade não é um problema de saúde, mas uma opção estética e cômica?

Já o técnico Felipão, célebre por ter defendido o ex-ditador do Chile, Augusto Pinochet, e por proibir seus jogadores de dar entrevista, deu uma declaração que faria corar Jece Valadão e Carlos Imperial: “Não me preocupa o que pensam os outros. Eles que cuidem da vida deles, que eu cuido do meu time. Mulher que não é bem cuidada, mete corno!"

Como assim, “bem cuidada”? Será que Felipão quis dizer que mulheres que não são satisfeitas sexualmente pelos maridos tendem a procurar prazer em outro lugar? Afinal, mulheres estão aí para satisfazer aos donos, não é mesmo, Felipão?

A preocupação de Felipão merece discussões mais amplas. Sugiro ao IBGE incluir, no próximo Censo, a pergunta: “a senhorita é bem cuidada?”

Do Brasil, vamos à Europa, onde o primeiro-ministro Silvio Berlusconi continua fazendo das suas.

Semana passada, ao rebater acusações de que teria ajudado uma menor de 17 anos que havia participado de festinhas de arromba em sua casa, Berlusconi disse: “É melhor gostar de garotas bonitas do que ser gay”. Inacreditável.

Para terminar, sabe quem está de volta? Ele mesmo, George W. Bush. Como Jason, Freddy Krueger e Michael Myers, ele sempre dá um jeito de ressuscitar e nos assombrar de novo.

Semana passada, o chefe de Estado que disse que a África era um país e autor de frases como “tenho a convicção de que seres humanos e peixes podem coexistir pacificamente” e “a parte mais difícil do meu trabalho é ligar o Iraque à guerra contra o terror”, lançou seu magnum opus, “Decision Points”, livro em que relata seus dois mandatos de presidente.

Além de defender a tortura de presos e insistir na cascata das tais armas de destruição em massa no Iraque, Bush soltou mais uma pérola. Descrevendo sua reação ao ver as imagens dos aviões colidindo contra o World Trade Center, disse: “o primeiro avião poderia ter sido um acidente. O segundo, foi um atentado. O terceiro, uma declaração de guerra”.

O ex-presidente só esqueceu de complementar: “Pena que declaramos guerra ao país errado, destruímos o Iraque, gastamos trilhões de dólares e Bin Laden continua solto”.

Luciana Gimenez, Felipão, Berlusconi e Bush. Por que damos tanta atenção a eles? Não seria mais fácil e indolor ignorá-los?

Aí a gente abre a Folha um dia e vê uma matéria do meu amigo Ivan Finotti sobre o cartunista Laerte.

Para quem não sabe, Laerte – um dos maiores criadores de quadrinhos do Brasil – resolveu, há pouco mais de um ano, se vestir de mulher. Assim, sem manifesto ou oba-oba. Quis botar saia, batom e sapatilhas, e foi o que fez.

Em entrevista, explicou: “Não faço isso porque a vida está sem graça. O problema é a vida submetida a essa ditadura dos gêneros, a esses tabus que não podem ser quebrados. É você sentir que sua liberdade está sendo tolhida, que as possibilidades infinitas que você tem de expressão na vida, ao sair, ao se vestir, ao se manifestar, ao tratar as pessoas, seu modo, seu gestual, sua fala, tudo isso é cerceado e limitado por códigos muito fortes e muito restritos. Isso é uma coisa que me incomoda.”

Pausa para reflexão. De um lado, uma famosa celebridade da TV, um ex-técnico campeão do mundo com a seleção brasileira, um primeiro-ministro italiano e um ex-presidente do país mais poderoso do planeta. Do outro, um cartunista aparentemente doido e que se veste de mulher. Quem você escolhe?

Me dá quantos Laertes você tiver aí, por favor.....

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